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Miriã de Sousa Lucas

A pesquisa sobre o impacto do crédito bancário no crescimento econômico é uma temática amplamente explorada ao longo dos anos. A concepção central é que o desenvolvimento financeiro, notadamente o acesso ao crédito, desempenhe um papel importante na promoção do crescimento econômico em diversas localidades do Brasil e do mundo. Enquanto várias investigações se dedicam a analisar o impacto do crédito rural no Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária e no PIB total da economia, estudos que buscam compreender a influência do crédito rural em outros setores econômicos ainda são incipientes. É sabido que o crédito rural pode reverberar, direta e indiretamente, em diversos segmentos econômicos, impulsionando investimentos, consumo, demanda por serviços, melhorias na infraestrutura e fomentando a inovação. Assim, o objetivo primordial desta tese é avaliar se o crédito rural, aquele destinado à agricultura e pecuária, impacta no crescimento de outros setores da economia, além do setor da agropecuária, ou seja, se os setores industrial e de serviços da economia brasileira também sofrem impacto do crédito rural. A hipótese subjacente é que o estímulo ao crescimento agrícola e pecuário, resultante do crédito, pode impactar o fornecimento de matérias-primas para a indústria e aumentar a demanda por serviços correlatos. A análise se concentra em verificar o impacto do crédito rural no Valor Adicionado Bruto (VAB) dos setores da agropecuária, indústria e serviços, nas microrregiões brasileiras durante o período de 2006 a 2020. A metodologia econométrica adotada se fundamenta na econometria espacial, compreendendo uma etapa inicial de Análise Exploratória de Dados Espaciais (AEDE), seguida pela aplicação de modelos econométricos espaciais, em que, primeiro, realiza-se uma abordagem em crosssection para quatro anos selecionados, sendo eles: 2006, 2010, 2015 e 2020, e, posteriormente, estende-se à aplicação de modelos de painel espacial para uma análise mais aprofundada, na qual se compreende todos os anos entre 2006 a 2020, 15 anos consecutivos. Os resultados da AEDE revelaram a presença de autocorrelação espacial entre o crédito rural e os setores específicos analisados. Essa observação sugere que microrregiões com elevados volumes de crédito rural estão geograficamente relacionadas a microrregiões que apresentam altos valores de VAB nos setores considerados. Nos resultados dos modelos econométricos, observou-se um impacto positivo do crédito rural no setor da agropecuária e no setor dos serviços, porém negativo no setor da indústria. Além do crédito rural, outras variáveis, como densidade demográfica, baixo nível educacional e pessoal ocupado, foram incluídas como controles, revelando relações variadas com o crescimento dos setores econômicos. Observou-se uma associação positiva entre a variável pessoal ocupado e o crescimento dos setores, enquanto a densidade demográfica apresentou uma relação negativa. Quanto ao baixo nível educacional, constatou-se uma associação positiva com o crescimento da agropecuária e da indústria, mas uma relação negativa com o setor de serviços. Ao fornecer evidências de que o crédito rural contribui para o crescimento do VAB dos setores da economia, esta tese propicia uma análise dos dados mais recentes, os quais sustentam a elaboração de políticas econômicas relacionadas ao apoio a iniciativas de financiamento agrícola e pecuário no Brasil.